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RELEASE NR.01/UNITA/
C.P.C.P/2001
MEMORANDUM ON NON-COMPLIANCE BY THE
MPLA 1975-1998
CARTA
ABERTA AOS POVOS DE EXPRESSÃO PORTUGUESA
| |
Lembremo-nos
do Eng. Jeremias Kalandula Chitunda
Introdução
Os 25 anos de governação do MPLA, isto é, desde a ascensão de
Angola à independência aos nossos dias, demonstraram que o MPLA não tem
nem vocação nem cultura de tolerância que lhe permitam conviver com os
outros partidos políticos que tenham identidade própria.
É nesta lógica que o MPLA criou, apoiou e financiou ao seu mais alto
nível, dissidências nos partidos históricos como a UNITA e a FNLA e até
mesmo nos partidos de recente criação como é o caso do PRS. Ao mesmo
tempo, o MPLA procura domesticar todos os outros desde que dêem sinais de
real oposição ao regime.
Esta política de exclusão, de intolerância e de atropelo sistemático
e deliberado dos direitos, liberdades e garantias do cidadão,
consubstancia-se no exercício permanente de tentar criar uma opinião única
no país, perseguindo, encarcerando e assassinando adversários políticos,
sejam eles deputados da oposição, jornalistas independentes ou cidadãos
anónimos e também silenciando de diversas formas todos aqueles que
exprimam posições diferentes.
O Governo de Luanda está a praticar, em Angola, um verdadeiro genocídio
com a cumplicidade de uma certa comunidade internacional. Na realidade,
a cruzada de assassínios e de extermínio não se limita unicamente
aos adversários políticos. Populações inteiras identificadas com a
oposição são vítimas de um verdadeiro genocídio como
aconteceu:
a)-Em 1992, quando mais de quarenta mil militantes da UNITA e angolanos
da etnia Ovimbundu foram assassinados em Luanda e noutras localidades do
País;
b)-Em Janeiro de 1993, quando mais de 300 angolanos da etnia Bakongo,
foram assassinados naquilo que se chamou " Sexta Feira Sangrenta;
e
c- Presentemente, nesta guerra actual, decretada por José Eduardo dos
Santos (JES), onde populações inteiras, com ênfase no centro do País,
são diariamente atingidas por bombardeamentos indiscriminados de napalm,
de bombas químicas, etc.
O bárbaro assassínio em 1992, pelo regime de JES, dos dirigentes da UNITA
como o Eng. Jeremias Kalandula Chitunda, Vice Presidente do Partido, o
Gen. Adolosi Paulo Mango Alicerces, Secretário Geral do Partido, o Eng.
Elias Salupeto Pena, Chefe da Delegação da UNITA na CCPM, e o Brig.
Eliseu Sapitango Chimbili,Chefe dos Serviços Administrativos da UNITA em
Luanda, enquadra-se nesta prática maniqueísta e política de exclusão e
de extermínio dos verdadeiros adversários políticos.
A política parcial sustentada por interesses mercantilistas dos países
implicados nos sucessivos processos de paz e seguida pelo conselho de
Segurança (CS) da ONU, culminou com a aplicação de sanções do CS contra
a UNITA, reforçando e legitimando assim, esta política de extermínio,
de exclusão e de intolerância do regime de Luanda.
O prolongamento do conflito angolano está também assente nesta lógica
do Mpla que privilegiou sempre soluções militares para problemas políticos.
Os três acordos de paz, Alvor, Bicesse e Lusaka, não vingaram porque o
MPLA preferiu sempre a força das armas para se impor em relação aos
seus parceiros.
É de notar que todas esses acordos tiveram um desfecho
criminoso:
a) - Alvor, 1975- Massacres do Pica-Pau, do Dondo e de Kassamba;
b) - Bicesse, 1992- Massacres de Outubro/Novembro de 1992 e de Janeiro
de 1993;
c) - Lusaka, 1997/98 -Massacres durante a extensão da Administração às
áreas sob o contrôle da UNITA e bombardeamentos indiscriminados contra
populações indefesas durante a guerra que se seguiu.
No plano externo, o regime do MPLA pratica a diplomacia das canhoeiras,
como foi no ex-Zaïre e no Congo Brazaville em 1997 e mais recentemente
ao transformar o território da Namibia em base operacional para atacar a
UNITA.
A vizinha República da Zâmbia que falta no palmarés da megalomania de JES
não está fora do perigo. Já vários pretextos têm sido evocados para
se justificar uma invasão cujos preparativos já se encontram em
curso. Neste cortejo de práticas belicistas José Eduardo dos Santos
acresce a prática do terrorismo de estado.
Assim:
a)-Em 1998 mandou disseminar cargas explosivas em várias cidades da
Republica da Zâmbia, incluindo a sua capital Lusaka.
b)-Em Outubro de 1999, raptou para Luanda o filho do Presidente da UNITA,
Araújo Sakaita, estudante em Lomé/Togo;
c)-Em Novembro de 1999, tentou -sem sucesso- raptar outro filho do
Presidente da UNITA, Eloi Sakaita, também estudante em Lomé/Togo.
Face a natureza intrínseca do regime de Luanda, acima descrita e porque José
Eduardo dos Santos é categórico em negar qualquer possibilidade de diálogo
com a UNITA, a esta não resta outra alternativa senão a resistência
armada, tal como foi contra o colonialismo Português e o neo
colonialismo Russo-Cubano até que José Eduardo dos Santos assuma uma
postura mais responsável e aceite que os problemas políticos sejam
resolvidos pela via do diálogo.
Como no passado a verdadeira democracia em Angola é o nosso objectivo
fundamental.
Em memória dos mártires, que acreditaram numa Angola verdadeiramente
independente e num Estado de direito com democracia plena e, numa
homenagem singela ao malogrado Eng.Jeremias Kalandula Chitunda,
patriota dedicado, humilde mas inteligente, hábil diplomata e exímio
negociador, e cujos restos mortais continuam ainda cativos pelo regime
despótico de José Eduardo dos Santos, a Direcção da UNITA decidiu
publicar este opúsculo, certo de que os angolanos de hoje e de amanhã não
permitirão jamais que a verdade dos factos que fizeram a História
recente do nosso País seja deturpada.
Com a publicação deste opúsculo, a Direcção da UNITA visa também
contribuir para o esclarecimento do debate sobre as causas da longevidade
do conflito angolano, como também assegurar-se de que as suas vertentes
jurídica e histórica não sejam de modo algum falsificadas.
A Direcção da UNITA Terras Livres de Angola
Aos 9 de Junho de 2000
I-Biografia do Eng. Jeremias Kalandula Chitunda
Filho de Emílio Chitunda e de Rosalina Kalombo, nasceu aos 20 de
Fevereiro de 1942 na aldeia de Chimbuelengue, Município do Chinguar, na
Província do Bié. Fez os seus estudos primários em Chimbuelengue
e na Missão Evangélica do Dôndi, Bela Vista e secundários no Colégio
D. João de Castro e no Liceu Nacional do Huambo.
Devido à perseguição movida pelas autoridades portuguesas,
principalmente pela sua famosa polícia política então conhecida pelo
nome de PIDE, o então jovem intelectual Chitunda deixou Angola em 1963
para se refugiar na vizinha República Democrática do Congo de onde
seguiu, mais tarde, para os Estados Unidos da América.
Inspirado pelo Presidente Savimbi que nessa altura era já o símbolo
das aspirações de jovens patriotas, foi por este aconselhado a continuar
os seus estudos na Universidade de Arizona. Participou, então, nos
esforços tendentes a informar a comunidade internacional sobre a resistência
do Povo de Angola à opressão colonial portuguesa.
Assim, de 1966 a 1974, Chitunda representou a UNITA nos Estados Unidos
e no Canada. Depois de uma brilhante carreira académica, formou-se em
engenharia de minas, tendo depois realizado muitas pesquisas nesse domínio.
Publicou obras de temas tecnológicos e científicos e sobre técnicas de
minas para a indústria extractiva e sobre sistemas mecânicos de
estabilização de escavações subterrâneas.
De 1971 a 1974 desempenhou também funções de Chefe do Departamento
da Engenharia Industrial e de Minas duma grande empresa
americana.
De Janeiro a Agosto de 1975 foi nomeado pela Direcção da UNITA para ocupar
o cargo de Ministro de Recursos Naturais, no Governo de Transição de
Angola.
Em 1975 a UNITA obteve o estatuto de membro observador nas Nações
Unidas tendo como seu representante o Eng.º. Jeremias Chitunda.
Depois do recuo estratégico que a Direcção da UNITA decidiu empreender
em 1976 face a invasão russo-cubana de Angola, Chitunda foi nomeado
Representante do Partido nos Estados Unidos, cargo que desempenhou até
1977.
Sempre fiel à Causa do Partido e da Pátria, militante incansável, dedicado
e exemplar, o Eng.º. Chitunda foi, aquando da realização do IV
Congresso do Partido realizado em Março de 1977, nomeado Secretário para
a Informação e Representante do Partido em França. Três anos depois,
em 1980, foi nomeado Representante do Partido nos Estados Unidos da América,
cargo que desempenhou até Agosto de 1986.
Bom conhecedor dos meandros da política americana, durante as suas funções
nos Estados Unidos o Eng.º. Chitunda dirigiu a campanha de informação e
mobilização da opinião pública americana a favor da luta de resistência
do Povo Angolano enquadrado na UNITA, criando assim condições que
levaram ao levantamento da famosa Emenda Clark pelo Congresso Americano e
impedindo o reconhecimento do regime anti democrático do MPLA pelo
Governo Americano.
Fazendo dos Estados Unidos a sua base de acção, o Eng.º. Chitunda estendeu
a sua campanha de informação e de mobilização da opinião pública
internacional para os outros países do Mundo e, nessa cruzada, empreendeu
missões diplomáticas à Indonésia, Japão, Singapura, Coreia do Sul, Arábia
Saudita, Oman, Quatar, Egipto, Sudão, Somália, Kenya, Marrocos, Senegal,
Côte d'Ivoire, Togo, América Latina e países da Europa Ocidental.
Em Agosto de 1986, aquando do VI Congresso Ordinário da UNITA, foi
indicado para o posto de Vice Presidente do Partido, com a
responsabilidade da Coordenação Administrativa do Partido.
Em 1991, liderou a delegação da UNITA que concluiu o Acordo de Bicesse
e, posteriormente, foi destacado para a capital do País para acompanhar
a materialização do referido acordo até à realização das eleições
fraudulentas em Setembro de 1992. Após as eleições, em princípios
de Outubro do mesmo ano, retirou-se para a cidade do Huambo, fugindo do
clima de hostilidade total criado pelo MPLA contra a UNITA .
Entretanto, as suas profundas convicções de patriota e de democrata,
aliadas às garantias de segurança prometidas pelos representantes da
Comunidade Internacional então presentes na Capital, levaram-no a
aceitar, voluntariamente, liderar a delegação da UNITA que em Outubro do
mesmo ano de 1992 se deslocou a Luanda com o fim de encontrar, através do
diálogo com o Governo do MPLA, uma saída à crise pós eleitoral.
Foi nessa missão de salvar o País da crise e sempre fiel ao seu Partido
e ao seu Povo que o Eng.º Chitunda, encontrou a morte, vítima da sanha
assassina do MPLA e da traição dos que, até então, se afirmavam
garantes da segurança dos dirigentes da UNITA em Luanda.
Barbaramente assinado por soldados a mando de José Eduardo dos Santos, o
seu corpo foi depois exibido na televisão nacional como se de um trofeu
de guerra se tratasse.
Até à data e apesar dos esforços da Direcção da UNITA, os seus
restos mortais bem como os dos membros que faziam parte da sua delegação,
continuam cativos algures em Luanda. Sete anos depois, a sua viúva,
América Chitekulo Chitunda, veio a perder a vida, ela também vítima da
sanha assassina de José Eduardo dos Santos, num ataque traiçoeiro da
aviação do MPLA ocorrido no dia 7 de Outubro de 1999 contra a pacata
população da cidade do Andulo.
O Eng.º Chitunda participou na elaboração de numerosos documentos
informativos da UNITA e em diversos colóquios e conferências. Fez parte
de várias delegações conduzidas pela Presidente da UNITA em diversas
missões diplomáticas na Europa, Ásia, Médio Oriente, África e América.
Homem de ciência e intelectual de invulgar craveira, o Eng.º. Jeremias
Kalandula Chitunda, conquistou o respeito, a simpatia e a estima de todos
quantos com ele conviveram e trabalharam, tanto no País como no
estrangeiro. Glória eterna aos mártires pela Independência Total de
Angola.
II- INCUMPRIMENTOS PELO MPLA DE VÁRIOS ACORDOS DE PAZ PARA
ANGOLA
Relembrar os factos que são parte integrante das causas da guerra em
Angola, incluindo os incumprimentos do regime de José Eduardo dos Santos
verificados na execução de vários acordos celebrados entre a UNITA e o
Governo do MPLA, é contribuir para o esclarecimento do debate sobre as
causas da longevidade do conflito angolano e é também assegurar que as
vertentes jurídica e histórica desse conflito não sejam falsificadas.
Aliás, este esclarecimento é também desejável pois poderá determinar
uma aproximação mais realista com vista a uma solução justa e
duradoira do conflito que assola Angola.
Os factos que passamos a indicar de forma cronológica, ilustram bem a má fé,
a intolerância e a política de exclusão que sempre caracterizaram o
regime de Luanda, assim como os subsequentes incumprimentos que contribuíram
-e contribuem- para a longevidade do conflito:
1 - ACORDO DE ALVOR
Em Dezembro 1974, os três Movimentos de Libertação, MPLA, FNLA e UNITA,
reuniram-se em Mombaça, sob os auspícios do Presidente Keniano, Jomo
Kenyata, afim de discutir uma plataforma de entendimento para servir de
base para as negociações com as autoridades Portuguesas. Achada esta
plataforma, em Janeiro de 1975, foram negociados e assinados os acordos de
Alvor em Portugal entre a UNITA, o MPLA, a FNLA e o Governo Português.
Estes acordos fixaram a proclamação da independência de Angola à 11 de
Novembro de 1975 no seguimento de eleições livres e justas, preparadas
por um governo quadripartido de transição( membros dos três movimentos
de libertação e da autoridade Portuguesa ).
Naquelas circunstâncias, este acordo era, o único instrumento jurídico,
capaz de conduzir Angola a Independência Nacional. Porém,
com vista a sabotar o processo conducente a Independência Nacional, o
MPLA adoptou os seguintes estratagemas :
Em Janeiro de 1975, introduziu em Angola 20 instrutores Cubanos, para
treinarem as tropas do MPLA sediadas na base de Massanganu. Em Maio de
1975, massacrou centenas de militantes da UNITA nas suas instalações do
Pica Pau em Luanda.
Em Junho de 1975, introduziu 600 militares cubanos em Luanda, com vista
a participarem no processo de expulsão da FNLA e da UNITA de
Luanda. Ainda em Junho de 1975, massacrou centenas de militantes da UNITA
em Kassamba/Moxico. Com esses desenvolvimentos, os Acordos de Alvor
entraram em colapso e, numa tentativa de salvá-los, o Presidente da UNITA,
Dr. Jonas Malheiro Savimbi, convidou os outros dois Movimentos a uma
conferência em Nakuru/Quénia em Junho de 1975.
Em Julho de 1975, mais 12000 cubanos desembarcaram em Luanda, dando
assim início a uma operação denominada Carlota. Aos 7 de Agosto
de 1975, militares do MPLA tentaram alvejar, na cidade do Bié, o avião
que transportava o Presidente da UNITA Nos meados de Agosto de 1975 o MPLA
denunciou os acordos de Alvor e de Nakuru e declarou a guerra contra os
outros dois movimentos, tendo também massacrado 700 militantes da UNITA
no município do Dondo, Província do Kwanza Norte. Neste mesmo mês
de Agosto a OUA decidiu o envio de uma missão de observação à Angola
com o objectivo de visitar as zonas controladas pelas partes e tentar
encontrar uma plataforma de entendimento.
Em Setembro de 1975, Outros contigentes Cubanos introduzidos pelo MPLA,
desembarcaram em Luanda. Preocupados com a presença crescente do corpo
expedicionário cubano e pelo envio massivo de material militar soviético
ao MPLA, a Administração Ford (Americana) e o Presidente Kaunda da Zâmbia
convenceram a África do Sul a intervir com as suas forças em Angola para
barrarem o avanço das tropas de Havana. Esta operação realizou-se sob o
nome de código Zulu. A violação destes acordos, isto é de Alvor e
Nakuru e a sua denúncia pelo MPLA, culminou com a expulsão da UNITA e da
FNLA de Luanda e com a proclamação unilateral da independência de
Angola, aos 11 de Novembro de 1975, pelo Comité Central do MPLA, na
pessoa de Agostinho Neto.
Estavam assim excluídos deste processo, a UNITA e a FNLA. Este
acto só foi possível, graças à cumplicidade das autoridades
portuguesas representadas pelo Alto Comissário no território, o
Almirante Rosa Coutinho e graças à protecção do corpo expedicionário
Cubano que, na altura, já ultrapassava 12 mil homens.
Em Janeiro de 1976, a OUA que se encontrava dividida ao meio no tocante
ao problema Angolano (22 Países apoiavam O MPLA e outros 22 a UNITA). lançou
um apelo para a retirada de todas as tropas estrangeiras de Angola.
Os americanos, atingidos pelo escândalo de Water Gate e limitados pela
adopção da Emenda Clark, abandonaram os Sul Africanos que não tiveram
outra solução senão retirarem as suas forças. Porém, desrespeitando
as decisões da OUA, os cubanos continuaram a desembarcar em Angola até
atingirem um efectivo de 70000 homens.
2. ACORDOS DE BICESSE
À 31 de Maio de 1991, foram assinados os acordos de Bicesse, entre a UNITA
e o MPLA (Governo). Estes acordos previam essencialmente a realização
de eleições multipardidárias e a criação de forças armadas únicas,
formadas a partir dos dois exércitos: Governo do MPLA e UNITA.
Entretanto, em Julho de 1992, o regime de JES criou unilateralmente, com o
apoio técnico e material do governo Espanhol de então, um exercito
privado -a Polícia de Intervenção Rápida (PIR), formada na única
perspectiva da destruição da UNITA.
A 29 e 30 de Setembro de1992, as primeiras eleições tiveram lugar.
Estas eleições ficaram manchadas com fraudes massivas e generalizadas. A
UNITA e sete outros partidos da oposição denunciaram estes resultados.
Uma comissão de inquérito foi criada, mas os seus resultados nunca foram
publicados por impedimentos da ONU e do MPLA.
Apesar disso, a 17 de Outubro de 1992, O Presidente da UNITA, Dr. Jonas
Malheiro Savimbi, escreveu ao Secretário Geral Adjunto das Nações
Unidas, Marek Gulding, que no interesse da Paz em Angola a UNITA se
disponibilizava a aceitar os resultados das eleições, mesmo que
fraudulentas e pedia negociações entre as partes para a preparação da
segunda volta das eleições presidenciais.
A 31 de Outubro de 1992, as negociações entre o MPLA e UNITA na presença
da ONU e da troïka de observadores teve início e o seu o fim era
resolver o diferendo político-eleitoral e a preparação da segunda volta
das eleições presidenciais. A 29 de Outubro de 1992, data em que
as negociações deveriam ser concluídas e assinado os entendimentos que
poriam fim ao contencioso político-eleitoral, o MPLA de JES, ordenou o
ataque às instalações da UNITA e os massacres de seus militantes e
dirigentes, incluindo os negociadores enviados para Luanda com o propósito
de se encontrar, através do diálogo, uma saída da crise. (Vide
cronologia dos massacres).
Em Dezembro de 1993 e junho de 1994 respectivamente, enquanto decorriam
as negociações que conduziram ao protocolo de Lusaka, José Eduardo dos
Santos perpetrou dois atentados à vida do Dr. Jonas Malheiro Savimbi.
Estes atentados foram investigados pelas Nações Unidas através da
UNAVEM II que concluiu que o autor dos atentados era José Eduardo dos
Santos e o seu regime.
3. PROTOCOLO DE LUSAKA
Aos 28 de Outubro de 1994, José Eduardo dos Santos e a UNAVEM II enviaram
à cidade do Huambo, o falecido Alioune Blondin Beye, Medianeiro do
processo negocial, com vista a convencer a Direcção da UNITA a rubricar
o Protocolo de Lusaka tendo, como contrapartida, a garantia de que as forças
de José Eduardo dos Santos não tomariam de assalto a cidade do
Huambo.
Os factos provaram, depois, o contrário. Se não, vejamos:
Aos 31 de Outubro de 1994, foi rubricado o Protocolo de Lusaka.
Aos 9 de Novembro de 1994, as forças de José Eduardo dos Santos tomaram
de assalto a cidade do Huambo;
Aos 15 de Novembro de 1994, foram assinadas tréguas;
Aos 17 de Novembro de 1994, as forças de JES tomaram a cidade do Uíge;
Aos 20 de Novembro de 1994, assinatura formal do Protocolo de Lusaka;
Aos 22 de Novembro de 1994, as forças de JES tomaram de assalto o município
de Kuito Kuanavale
3.1 Tarefas previstas pelo Protocolo de Lusaka
O Protocolo de Lusaka previa com carácter obrigatório os anexos
seguintes:
Anexo 3:
Questões militares I:
a) Restabelecimento do cessar-fogo
b) Aquartelamento e desmilitarização das forças da UNITA c)
Desarmamento da população civil
d) Repatriamento dos mercenários
Anexo 4:
Questões militares II:
Conclusão da formação do exército único e desmobilização dos
efectivos excedentários.
O processo da conclusão da formação das FAA sob verificação e
fiscalização das Nações Unidas, garantiria a existência de forças
armadas únicas, nacionais, apartidárias, obedientes aos órgãos de
soberania da República de Angola.
A composição das Forças Armadas Angolanas obedeceria ao princípio
da proporcionalidade entre as forças militares do Governo e da UNITA,
conforme os Acordos de Bicesse.
Os efectivos militares excedentários ao número a ser acordado entre
o Governo de Angola e a UNITA para a composição das FAA seriam
desmobilizados e integrados na sociedade civil, dentro de um programa
nacional de reinserção social a ser empreendido pelo Governo da República
de Angola com a participação da UNITA e a ajuda da comunidade
internacional.
Anexo 5:
Polícia
a) Formação de uma polícia única;
b) Aquartelamento da Polícia de Intervenção Rápida e a adequação de
seu armamento e do seu equipamento à natureza da sua missão seriam
efectuados.
Anexo 6:
Reconciliação Nacional
a) A promoção do espírito de tolerância, de coexistência e de
confiança;
b) Estatuto especial do presidente da UNITA;
c) Investidura dos 70 deputados da UNITA ao Parlamento nacional
d) Formação do GURN (Governo de Unidade e Reconciliação Nacional)
governo de gestão, até às próximas eleições;
e) Transformação do estatuto da Rádio Vorgan da (UNITA) numa rádio
comercial;
f) Extensão da administração do Estado;
g) Restituição de todo o património da UNITA;
h) Revisão dos símbolos da República;
i) Descentralização administrativa;
j) Respeito pelas regras do estado de direito, dos direitos e
liberdades fundamentais do indivíduo, garantidas através da independência
do poder judicial.
Anexo 7:
Conclusão do Processo Eleitoral
Ponto 2:
O processo eleitoral angolano iniciada com as eleições previstas
nos Acordos de Paz para Angola (Bicesse), encontra-se por concluir devido
à crise pós-eleitoral. Nos termos do n°3 do artigo 47 da Lei 5/92
de 16 Abril, o mesmo deve ser concluído através da realização da
segunda volta das eleições presidenciais.
Ponto 3:
A segunda volta das eleições presidenciais terá lugar após a
ONU, no quadro do seu novo mandato, depois de ouvida a Comissão
Conjunta e recolhidos os pareceres consultivos julgados necessários
ter declarado que todas as condições requeridas para o efeito,
designadamente as de natureza política e material, estão
reunidas.
Anexo 8:
Mandato da ONU
Ponto 3:
O governo e a UNITA convidam a ONU, tendo em vista a implementação
integral dos "Acordos de Paz para Angola" (Bicesse), e do Protocolo
de Lusaka a realizar, para além das suas missões de bons ofícios e
mediação, as tarefas mencionadas no presente mandato. Os Países
Observadores do Processo de Paz (Estados Unidos da América, Federação
da Rússia e Portugal) apoiam plenamente este convite.
Ponto 4:
O governo e a UNITA reafirmam o seu desejo expresso de que a ONU, no
quadro do seu novo mandato, desempenhe um papel alargado e reforçado na
implementação dos "Acordos de Paz para Angola" (Bicesse) e do
Protocolo de Lusaka, conforme o acordado nos domínios das questões
militares, da polícia Nacional, da Reconciliação Nacional e da
conclusão do Processo Eleitoral. Ambos reafirmam que estão
determinados a respeitar e a proteger a Missão da ONU em Angola, as
suas operações, o conjunto dos seus membros, as suas instalações,
assim como os seus bens.
Ponto 5:
O governo e a UNITA convidam a ONU, no quadro do seu novo mandato, a
assumir a presidência da Comissão Conjunta e de todas as reuniões
apropriadas entre o governo e a UNITA, na presença dos representantes
dos Países Observadores.
3.2 Grau de execução das tarefas previstas pelo Protocolo de Lusaka
Sobre o anexo 3:
Questões militares I
a) Restabelecimento do cessar-fogo: Como se viu o cessar-fogo foi várias
vezes violado pelas forças do governo do Mpla com a ocupação das cidades
do Huambo, Uíge, Cuito e Cuito Cuanavale depois da rubrica e da
assinatura do acordo e com ofensivas militares contra a província da
Lunda Norte em Maio e Junho de 1997.
b) Aquartelamento e desmilitarização das Forças Militares da UNITA
A UNITA aquartelou e desmilitarizou todas as suas forças armadas e
emitiu duas declarações a este respeito, nomeadamente à 11 de
Dezembro de 1996 por ocasião do fim do aquartelamento e aos 6 de Março
de 1998 aquando do fim da desmilitarização. Essas duas declarações
foram seguidas por duas declarações das Nações Unidas confirmando
os factos respectivamente aos 13 de Dezembro 1996 e aos 10 de Março
de 1998.
c) Desarmamento da população civil pelo governo Nenhuma acção
foi empreendida neste sentido. A população civil ou milícias
populares continuaram e continuam armadas. Com referência a este
aspecto consta do relatório do Secretário Geral S/1998/524 de 17 de
Junho de 1998 o seguinte: "Com a multiplicação dos actos
de banditismo, a proliferação de armas nas mãos da população
civil é um dos maiores perigos que ameaçam a segurança em Angola.
Neste contexto, a componente polícia civil, insistiu junto do governo
para que este empreenda acções destinadas à desarmar a população
civil conforme recomenda o protocolo de Lusaka. Apesar das declarações
do governo, que afirma estar a levar a cabo presentemente uma operação
de desarmamento, a sua cooperação com a MONUA é insuficiente. A
MONUA continua sem nenhuma informação sobre as operações de
desarmamento que, dizem respeito essencialmente às zonas
anteriormente controladas pela UNITA".
Já aos 23 de Abril de 1998, por ocasião da abertura da Reunião do
Comité Central do MPLA, José Eduardo dos Santos afirmou o
seguinte: "O desarmamento da população civil é uma tarefa que
se implementará no tempo". Ficara assim bem clara a decisão
de José Eduardo dos Santos não aceitar desarmar as suas milícias,
violando desta forma e uma vez mais, o Protocolo de Lusaka.
d) Repatriamento dos mercenários: Em Janeiro de 1996, o governo
realizou uma grande operação de charme, fingindo repatriar 180
mercenários Sul-Africanos. Esta operação visava fechar o dossier
dos mercenários. Na realidade 4.500 soldados de fortuna continuaram
em Angola, distribuídos pelas localidades de Kahama (Kunene), Hanha
do Norte e Katumbela (Benguela), Longa-Nia (Kuanza Sul), Cabo Ledo
(Bengo), Futungo de Belas (Luanda), Ambriz (Bengo), Soyo (Zaire), Buco-Zau
(Cabinda) e nas Lundas. Fazem-se passar por empregados de empresas de
segurança civil como, a Saracen, a Teleservice, a Digital, a Alpha 5
etc.
Ao todo existem em Angola 90 empresas "ditas" de segurança.
A despeito das várias resoluções do Conselho de Segurança exigindo que
o governo angolano procedesse ao repatriamento dos mercenários, e
apesar das muitas denúncias feitas pela UNITA, pelo Governo
Sul-Africano e por deputados europeus, os mercenários não arredaram
o pé de Angola.
Sobre o anexo 4:
Questões militares II:
Conclusão da formação das Forças Armadas Angolanas e
desmobilização dos efectivos excedentários.
a) Conclusão da formação das Forças armadas únicas - A
proporcionalidade não foi respeitada assim como as funções
previstas pelo acordo de Bicesse. - A incorporação dos
militares da UNITA no exército único foi de 10.000 soldados, tendo
os outros 13.400 sido rejeitados pelo comando das FAA que arranjou
pretextos de vária ordem para justificar a sua rejeição. - A
incorporação de oficiais generais da UNITA nas FAA foi limitada a 9
generais.
b) Desmobilização dos Efectivos Excedentários - A desmobilização
dos efectivos excedentários do Governo, não foi efectuada. No
seu relatório S/1998/236 de 13 de Março de 1998, o Secretário Geral
da ONU referiu-se ao assunto nos seguintes termos: "O governo não
indicou até agora quais são os efectivos excedentários nas Forças
Armadas Angolanas nem o calendário previsto para a sua desmobilização".
Aos 23 de Abril de 1998, José Eduardo dos Santos, aquando da abertura
da reunião do seu Comité Central, afirmou o seguinte: "O
Maître Beye(Representante Especial do Secretário Geral das Nações
Unidas) anunciou para breve a extensão da administração do estado
ao Andulo e ao Bailundo e a instalação de toda a Direcção da UNITA
em Luanda. Depois disto restarão 3 tarefas que são: a desmobilização
dos efectivos excedentários das forças armadas angolanas, as FAA, o
desarmamento da população civil e a segunda volta das eleições
presidenciais. As Forças armadas não têm efectivos excedentários.
O desarmamento da população civil é uma tarefa permanente do
governo que continuará mesmo depois de terminar o actual processo de
paz. Resta a segunda volta das eleições presidenciais que nos termos
da legislação em vigor, deviam ocorrer 30 dias depois da primeira
volta . Já se passaram 4 anos, houve grandes mutações do eleitorado
e do ponto de vista político e jurídico, parece extremamente
complicado organizá-las". Este discurso punha em jogo tarefas
importantes do Protocolo de Lusaka, e era uma clara violação dos
termos do acordo. Se de um lado ele aceitava que havia tarefas a
cumprir, dava a seguir o dito pelo não dito. A Troïka de
Observadores e a Mediação da ONU não reagiram a este discurso, o que
deixava claro a política de dois pesos e duas medidas seguida por
esses Países e pela ONU.
Sobre o Anexo 5:
Polícia
a) Formação de uma polícia única - A formação de uma polícia
única não foi realizada, apesar da presença em Luanda dos efectivos
da UNITA para integração nessa polícia. Vários elementos cedidos
pela UNITA para a formação de uma polícia única, foram rejeitados
pelo Governo sob diversos pretextos e, dos que foram aceites, muitos
viram-se empregues em serviços de estiva no Porto de Luanda e noutros
que nada têm haver com os objectivos que os tinham levado a
Luanda.
b) Aquartelamento da PIR e adequação do seu equipamento e armamento
à natureza das suas tarefas - O aquartelamento da PIR (Polícia
de Intervenção Rápida) foi também uma operação "pó nos
olhos": dos 40.000 homens só 6.240 foram aquartelados em Maio de
1996. Apesar disso, a ONU deu por terminada esta operação importante
do Protocolo de Lusaka. - O seu armamento e equipamento não foram
adaptados à sua missão. Esta polícia especial continuou equipada
com material militar de guerra, incluindo tanques, carros de assalto,
rocketes, canhões de longo alcance, metralhadoras ligeiras e pesadas
e helicópteros de assalto.
Sobre o Anexo 6:
Reconciliação Nacional
a) Promoção do espírito de tolerância, de coexistência e de confiança.
Nada foi feito neste sentido. A política de exclusão continuou a ser
levada a cabo com cada vez com maior agressividade. Esta política
teve sempre como pilares:
1- A imprensa Estatal -Caixa de ressonância do partido no poder.
Utiliza a desinformação, a intoxicação da população para
diabolizar a oposição, sobretudo a UNITA. O pedido sobre a instalação
de uma rádio da ONU para uma informação mais neutra nunca viu a
sua instalação autorizada.
2- A polícia política É um dos pilares fortes do regime. O governo
recusa-se obstinadamente a colocar sob alçada do Ministério da
Justiça, a polícia judiciária que continua tutelada pelo Ministério
do interior. A esta Polícia cabe velar pelo pensamento único,
através de intimidações que assumem formas de assassínios, prisões,
etc. Em 1995 e 1996, vários militantes da UNITA foram ameaçados de
morte e um deles, o senhor Adão da Silva, foi mesmo morto pela polícia
política.
3- As forças armadas - No anexo 4 ponto 1 do protocolo de Lusaka,
estava previsto que as FAA (Forças Armadas Angolanas) deveriam ser
apartidárias. No entanto essas mesmas forças armadas evoluíram
sempre num quadro partidário apesar da incorporação dos militares
da UNITA. Como exemplos basta constatar os seguintes factos:
-O estandarte das forças armadas continua a ser o das FAPLA (Forças
Armadas do MPLA) e -A data das forças armadas continua a ser
o 1° de Agosto, data da criação das FAPLA, etc.
4- As finanças do estado - São a espinha dorsal do regime. Elas são
controladas directamente por José Eduardo dos Santos, Presidente da
República e Presidente do Partido no poder. O jornal "o
Publico" e a ONG Britânica, Global Witness, descreveram-no da
seguinte forma: "O sexagenário que, com um olhar triste de
menino, ergueu uma das maiores e mais sofisticadas pirâmides de
corrupção do mundo; o vértice, o Chefe e o cérebro da pilhagem
que privatizou a guerra, que controla o MPLA, o Governo as Forças
Armadas, o petróleo, os diamantes, o mundo dos negócios, todos os
negócios. José Eduardo dos Santos é Angola." Segundo o FMI
mais de 65% das receitas do estado estão fora do orçamento
oficial. O que resta, quer dizer 35%, é essencialmente dividido pela polícia
política, o exército do partido, a imprensa estatal e as missões
diplomáticas.
5- Suborno à membros da oposição Dentro dos 65% extra orçamento
oficial do estado, estão previstos uma verba para a compra dos
membros da oposição. Estas somas são geridas pelos serviços de
segurança da Presidência da República. A propósito, a Global
Witness em O Despertar Cru, escrevia: "Os detentores do Poder
na presidência empreenderam também um processo de corromper o que
existe de oposição até certa medida, parece contra o próprio
partido".
6- Intimidação e execução extrajudiciária dos membros da oposição
O secretário geral da ONU no seu relatório S/1998/236 de 13 de Março de
1998 escrevia: "O grupo ad hoc da comissão mista sobre
as presumidas violações dos direitos humanos continua a examinar
as violações dos direitos do homem assinaladas e recomendou
medidas apropriadas. A maioria das presumidas violações -detenções
ilegais, tortura e assassinato de civis inocentes - foram
perpetradas pela polícia nacional nas zonas onde recentemente foi
normalizada a autoridade administrativa. é urgente traduzir em justiça
os responsáveis dos violações dos direitos do homem confirmadas,
nomeadamente a morte de 10 militantes da UNITA detidos em Malange".
a) Formação do GURN (Governo de Unidade e Reconciliação
Nacional) - O governo de Unidade e Reconciliação
Nacional foi formado aos 11 de Abril de 1997 com 88 membros. -
Os postos ministeriais atribuídos à UNITA, foram esvaziados do seu
conteúdo por sociedades de direito público controladas pela presidência
da República. A Endiama é apenas um dos exemplos. O elevado
número de membros nesse governo traduziu claramente a vontade do
MPLA em torná-lo ineficiente.
b) Extensão da Administração do Estado A extensão da
administração do estado devia ter merecido cuidados especiais
porque a Direcção da UNITA sempre a considerou como a expressão
mais concreta da reconciliação nacional. Todavia e contrariamente
a todas as expectativas, o governo aproveitou essa oportunidade para
ajuste de contas, conforme podem asseverar os factos que a seguir
mencionamos:
- - Eliminação física de mais de 1500 Responsáveis da UNITA, das
estruturas municipais e comunais( vide cronologia dos
massacres).
- - Destruição dos símbolos e infra-estruturas, moveis e imóveis
da UNITA um pouco por todo o País;
- - Não observância pelo regime de José Eduardo dos Santos do
acordado entre as partes sobre o acesso da UNITA às fontes de
receitas para o seu financiamento. O acordo acima referido foi
patrocinado pelo Governo Americano, na sua qualidade de País
membro da Troïka de Observadores, através do Embaixador Paul
Hare, enviado especial do Presidente Americano Bill Clinton a
Angola, bem como pelo então Embaixador Americano em Luanda,
Donald Steinberg.
- -Violação do acordo a que as partes chegaram na reunião de 19 de
Junho de 1998, no Andulo, sobre a necessidade de rectificação
dos erros cometidos durante o processo da aplicação do
Protocolo de Lusaka, nomeadamente na vertente extensão da
administração do estado. No seu relatório S/1998/524 de 17 de
Junho de 1998, o secretário geral da ONU escrevia:
"Neste momento a administração do estado foi normalizada em 272
das 355 localidades previstas. Salvo nas zonas situadas nos
arredores Andulo e Bailundo, os atrasos registados no processo
de normalização noutras localidades deve-se essencialmente à
dificuldades logísticas. Importa no entanto salientar que
certas zonas onde o poder central foi restabelecido continuam
instáveis ». (.) « Responsáveis e simpatizantes da UNITA
foram vítimas de vários actos de violência. A UNITA afirmou
que sete dos seus membros foram mortos nos dias 6 e 7 de Maio
por soldados do exército angolano perto do Negage. Em vários
casos, as violações flagrantes dos direitos do homem, como o
assassinatos de funcionários locais da UNITA nas províncias de
Cuando Cubango, Cuanza Norte e Lunda Norte, assim como actos de
perseguição contra os membros da UNITA, foram confirmados pela MONUA.
Os representantes da UNITA abandonaram os seus postos de
trabalho em certas zonas por serem perseguidos pela polícia
nacional angolana». O balanço desta extensão da administração
foi muito grave e trágica.
Nas 272 localidades todas as infra-estruturas da UNITA foram
destruídas e os seus membros activos e dirigentes locais foram
assassinados, presos ou torturados. Os que conseguiram escapar
refugiaram-se nas mata ou nas 4 últimas localidades onde residia
provisoriamente o presidente da UNITA antes da sua instalação
definitiva em Luanda. O espírito de reconciliação nacional foi
substituído pela limpeza política e criminosa. c) Restituição
de todo o património à UNITA. Só a sede nacional da UNITA em
Luanda tivera sido restituída.
d) Revisão dos símbolos da República. Os símbolos da República
continuaram os mesmos da República do partido/estado com as cores
do MPLA.
e) Descentralização Administrativa. Nada foi feito
f) Respeito das regras do estado de direito, dos direitos e
liberdades fundamentais do indivíduo. Esta alínea assim como
a alínea a) precedente, nunca foi respeitada e, pelos vistos, nunca
será respeitada enquanto a política de exclusão e o sistema de
partido/estado não forem banidos.
Sobre o anexo 7:
Conclusão do Processo Eleitoral -
José Eduardo dos Santos no seu discurso de 23 de Abril de 1998
afirmou como se viu na questão dos efectivos excedentários
que: "Politicamente e juridicamente será difícil a realização
da segunda volta das eleições presidenciais". Ele não
encarava a possibilidade de permitir a conclusão do processo
eleitoral segundo os termos do acordo de paz. No entanto, o plano está
bem claro na proposta do grupo parlamentar do MPLA.
Sobre o Anexo 8:
Mandato da ONU
A ONU cometeu um erro gravíssimo ao considerar o quadro legal do
governo, fora dos termos do Protocolo de Paz. Com efeito, o quadro
legal de então decorria do Protocolo de Lusaka que terminava com a
conclusão do processo eleitoral de 1992 e com novas eleições
legislativas.
O mandato legislativo de 1992, ao chegar à termo em 1996, com ele
também terminava o do governo. Foi necessário recorrer ao protocolo
de paz de Lusaka para se formar um novo governo de gestão, durante a
fase de transição até as novas eleições.
Por outro lado, a ONU ultrapassou o seu mandato ao tratar a questão
Angolana no seio do Conselho de Segurança sem a presença da UNITA,
negando assim a esta o seu direito de, enquanto parceiro do Processo
de Paz de Lusaka também poder defender o seu ponto de vista, à
semelhança do MPLA/Governo.
Resultado: o Conselho de Segurança julgou a UNITA sem que esta, na
sua qualidade de acusado, pudesse defender-se. Aliás, a lógica
das punições contrastou fortemente com o papel de uma mediação que
era, afinal, o de aproximar as partes pelo diálogo, auscultando
atentamente as preocupações de uns e de outros e levá-los a uma
plataforma de entendimento e de equilíbrio.
De resto, o Protocolo de Lusaka era claro, no seu ponto 3: " O
Governo e a UNITA convidam a ONU a assumir a mediação".
Consequentemente a ONU não podia excluir uma das partes para só tratar com
a outra.
3.3 Sobre a Vice-Presidência da República
De Maio à Setembro de 1996, no quadro da aplicação do Protocolo de
Lusaka, JES prometeu atribuir a segunda vice- Presidência da
Republica ao Presidente da UNITA. Porém, depois de varias
discussões directas entre o Dr. Jonas Malheiro Savimbi e JES e depois
dos esforços de vários Chefes de Estado de Países Africanos, José
Eduardo dos Santos não se dignou sequer definir as competências de
segunda vice-Presidente da República confirmando portanto tratar-se
de um cargo decorativo visando igualmente a anulação da segunda
volta da eleição Presidencial.
3.4 Prorrogação do mandato da Assembleia Nacional
Expirado o mandato da Assembleia Nacional, em Outubro de 1996 e
contrariamente ao acordado entre as partes, o MPLA prorrogou unilateralmente
o mandato dos Deputados num acto que se constituiu num verdadeiro golpe
de estado constitucional (vide proposta do grupo parlamentar do MPLA,
acima transcrita).
3.5 Violação da clausula triplo zero
A violação ostensiva pelo MPLA da clausula triplo zero , contida no
acordo de Bicesse, que proibia as partes a se rearmarem, foi uma
constante. Muitos diplomatas acreditados em Luanda, incluindo os da
Troïka dos Países observadores, nomeadamente o segundo secretário
da embaixada americana Dale Bendler puderam constatar o desembarque, já
em 1995, de material de guerra no porto de Luanda, incluindo carros de
assalto e tanques.
3.6 Contagem decrescente do fim do processo de paz e o início do
conflito
Seguro da sua impunidade que lhe foi conferida pela ONU através da aplicação
das sanções injustas contra a UNITA e convicto da sua supremacia militar
com as intervenções feitas nos países vizinhos e achando-se potência
regional, o MPLA e o seu presidente decidiram levar avante a sua política
de destruição da UNITA, tomando as seguintes posições:
- Aos 10 de Junho de 1998 José Eduardo dos Santos fez saber que iria
cooperar com a comunidade internacional só até ao dia 30 de Junho
de 1998 e que depois desta data empreenderia medidas de força.
José Eduardo dos Santos anulou o acordado entre as partes ( UNITA/MPLA )
na reunião de 19 de Junho de 1998 no Andulo que visava a rectificação
dos excessos cometidos pela policia do MPLA na extensão da
administração do Estado.
- Aos 30 de Agosto de 1998 José Eduardo dos Santos ordenou, a expulsão
dos membros da UNITA do GURN (Governo de Unidade e Reconciliação
Nacional) e da Assembleia Nacional e a cessação de todos os
contactos com a Direcção da UNITA. A partir de Setembro de
1998 José Eduardo dos Santos ordenou o seguinte: -Interdição ao
Representante do Secretário Geral das Nações Unidas, Embaixador
Issa Diallo, de se deslocar ao Bailundo e Andulo, para se encontrar
com a Direcção da UNITA, no quadro da sua missão de mediador do
Processo de paz. O Secretário Geral da ONU no seu relatório, dizia
o seguinte: "Desde que ela se retirou, em 4 de Dezembro
de 1998 das zonas controladas pela UNITA a MONUA tem sérias
dificuldades em comunicar com este grupo. Tendo em conta a posição
bem conhecida do governo angolano, o meu representante especial não
pode se encontrar directamente com o Sr. Savimbi ou com os seus próximos
colaboradores". (Relatório do S.G da ONU S/1999/49). -Interdição
dos voos das Nações Unidas em direcção às localidades onde se
encontrava a Direcção da UNITA para o aprovisionamento dos observadores
da MONUA; Esta atitude avolumou as suspeitas que existem sobre
a implicação do regime de José Eduardo dos Santos na morte do então
Representante Especial do Secretario Geral das Nações Unidas em
Angola, Maître Alioune Blondin Beye, ocorrido em Junho de 1998 e
que em vida, poderia testemunhar os incumprimentos pelo MPLA às
clausulas do Protocolo de Lusaka .
- Aos 2 de Setembro de 1998, José Eduardo dos Santos criou um grupelho
talhado à sua imagem, auto-denominado UNITA Renovada, para
materializar o seu projecto - Plano Estratégico de Implosão da
Direcção da UNITA- concebido em Fevereiro de 1998 e fez dele o seu
interlocutor para o Processo de Paz; Ainda em Setembro de 1998, José
Eduardo dos Santos forçou os membros suspensos da UNITA no
Parlamento e no Governo a "clarificarem" individualmente
as suas posições. Esta medida, destinava-se a provocar a divisão
e a desconfiança no seio dos membros da UNITA, reforçando desta
forma o novo interlocutor que ele acabava de criar.
- Aos 5 de Dezembro de 1998, José Eduardo dos Santos declarou a guerra
e sentença de morte contra o Dr. Jonas Malheiro Savimbi, através
do discurso que, proferido na abertura do 4° Congresso do seu
Partido, tinha os seguintes termos: "Ao desenvolvermos a
nossa capacidade para combater com sucesso os inimigos da paz fora
das nossas fronteiras, criamos as condições internas para vencer
os agentes dos interesses estrangeiros que durante muito tempo têm
sido utilizados para dominar o povo angolano e pilhar as suas
riquezas. O chefe de fila destes agentes, é Jonas Savimbi. A única
via que nos resta para a conquista da paz definitiva é o isolamento
interno e externo do Dr. Savimbi e do seu grupo assim como a sua
neutralização política e militar" Posteriormente, o Secretário
Geral das Nações Unidas referiu-se ao assunto nos seguintes
termos: (Relatório do S.G da ONU S/1999/49). "O
Presidente Angolano Senhor José Eduardo dos Santos no seu discurso
de abertura de IV Congresso do MPLA, que teve lugar de 5 à 10 de
dezembro de 1998, declarou que o único meio para assegurar uma paz
duradoira era de isolar completamente o Sr. Savimbi e o seu
grupo. "No seu discurso de fim do ano o Presidente reiterou que
o seu governo se recusava à dialogar com o Sr. Savimbi".
"Numa declaração pública e recente o chefe do Estado Maior das Forças
armadas angolanas (FAA) afirmou que "a guerra ainda só está a começar"
e que as FAA se bateriam até a "neutralização" do Sr.
Savimbi e dos seus parceiros". Ainda no mesmo relatório,
o Secretário Geral das Nações Unidas acrescentava:
"Tornou-se mais que evidente que neste momento as condições necessárias
para que a ONU possa jogar um verdadeiro papel de manutenção da
Paz em Angola deixaram de existir. Para além disso, o governo
angolano informou a ONU que ele não tinha intenções de prolongar
a presença da MONUA par lá do seu mandato em curso. O Presidente
dos Santos exprimiu de novo esta posição ao secretário Geral
Adjunto o Sr Sevan, aquando do seu encontro em 6 de Janeiro em
Luanda. A posição do governo foi depois tornada pública pelos médias.
No seguimento do que parecia ser uma companha mediática coordenada contra
a ONU e a MONUA uma atitude negativa apareceu no público. Em certos
casos o pessoal da ONU foi vítima de intimidações e assediada. O
ataque contra dois aviões das Nações UNIDAS aparentemente
abatidos em voo é um crime particularmente chocante, sem dúvida
destinado a intimidar a ONU e a lhe obrigar a reduzir as suas operações".
(Relatório S/1999/49 do S.G. da ONU) Em todos os relatórios do S.G
da ONU não houve, entretanto, nenhuma condenação. Nenhuma resolução
do Conselho de Segurança, condenando esta tomada de posição, foi
votada. Infelizmente mais uma vez primou a lógica em que os
interesses económicos se sobrepuseram abertamente à todas as
considerações de ética política. No prosseguimento desta guerra
criminosa decretada por José Eduardo dos Santos, várias violações
dos direitos humanos estão a ser cometidas diariamente. Entre
outros, denunciamos, neste documento, alguns casos graves: 1/
Prisão de Deputados da UNITA.
- Aos 6 e 8 de Dezembro 1998, foram presos em Luanda os deputados
Carlos Alberto Calitas, José Domingos "Maluka", Tiago
Carlos Kandanda, Vicente Vihemba e Manuel Saviemba acusados pelo
MPLA de crimes contra o estado. Na realidade estes deputados foram
presos por terem publicamente recusado, o plano de José Eduardo dos
Santos de destruir a UNITA pelas armas e criando uma UNITA que lhe
é submissa. 2/ Intimidação, ameaças de morte e tortura psicológica
dos membros da UNITA em Luanda. Todos os membros da UNITA que
se encontram em Luanda e que se recusam a aderir ao plano de José
Eduardo dos Santos, são diariamente submetidos a ameaças de morte,
intimidação, tortura psicológica e chantagem financeira.
Lembramos que no quadro de Processo de Paz, a ONU deu garantias de segurança
a todos esses quadros, quaisquer que fossem as circunstâncias. Hoje, porém,
essas garantias caíram no esquecimento absoluto. Forçada de deixar
Angola, por decisão unilateral de José Eduardo dos Santos, a ONU não
se dignou a respeitar os seus engajamentos de, pelo menos, garantir
a segurança aos membros da UNITA. A ONU esqueceu-se pura e
simplesmente dos seus engajamentos e os membros da UNITA em Luanda
tornaram-se hoje reféns políticos do MPLA/Governo, simplesmente
por terem aceite, no quadro do Processo de Paz, cumprirem com as
obrigações do seu partido com garantias internacionais. E,
incrível que pareça, o Secretário Geral das Nações Unidas escrevia
assim num dos seus relatórios: "Em Luanda a policia
Nacional continua a assegurar mesmo que, de maneira não sistemática
a protecção dos representantes da UNITA. A este efeito convirá de
notar que cinco representantes (deputados) da UNITA foram presos e
acusados de ter participado nos ataques da UNITA contra Kuito, Huambo
e Malange". (Relatório do S.G da ONU S/1999/49).
O S.G da ONU limita-se, pois, a constatar mas não toma nenhuma medida
no sentido de cumprir com o seu papel de garante da segurança dos
membros da UNITA que o seu próprio representante especial foi
buscar, pessoalmente ao Bailundo.
- 3/ Utilização das populações como escudo humano: As populações
Angolanas têm sido forçadas pelo exército do MPLA a abandonarem
as suas áreas de origem para se instalarem nas cidades. Esta política
macabra seguida por Eduardo dos Santos visa utilizar a questão
humanitária para obter dividendos políticos e militares da
Comunidade Internacional (vide relatório da OCHA de 27 de Avril
2000) e finalmente organizar outras eleições mais fraudulentas
para ano 2001. "Angola está segundo alguns relatórios à
beira de uma catástrofe humanitária. Em muitas zonas, a população
civil está cercada e colocada no meio dos combates" (Relatório
do S.G da ONU S/1999/49). 4/ Integração forçada de jovens nas Forças
armadas do MPLA. "Assinala-se que jovens, muitos de menor idade
estão a ser recrutados à força, nomeadamente nas províncias de
Bié, Lunda Norte, Lunda Sul e Moxico". (Relatório do S.G da
ONU S/1999/49). 5/ Bombardeamentos indiscriminados da aviação
governamental Centenas de civis morrem cada dia por causa dos
bombardeamentos com napalm, bombas de ar combustível e bombas de
deflagração múltipla, lançadas pela aviação de José Eduardo
dos Santos.
Com medo da Defesa Anti Aérea da UNITA, esta aviação prefere
arrasar aldeias inteiras. A ausência da imprensa internacional e de
observadores independentes faz com que José Eduardo dos Santos
cometa, em silêncio, um verdadeiro genocídio das populações
rurais angolanas, principalmente as que habitam o Planalto
Central.
- 6/ Armas químicas. Apôs a sua utilização massiva na guerra dos
16 anos contra a UNITA, José Eduardo dos Santos resolveu uma vez
mais voltar a utilizar estas armas mortíferas e interditas
mundialmente. Já foram detectados vários casos de incontinência,
intoxicação, perda de cabelos, tosse de sangue etc. etc. apôs
bombardeamentos aéreos. A propósito, o professor Hendrijckx do Instituto
de Toxicologia de Gant dizia: Em Angola, Dos Santos recebeu
gazes dos Russos. Ele os utilizou pelo menos de 1986 a 1991 contra a
UNITA de Savimbi. Depois de ter sustentado Kabila, a sua
agressividade fez-se sentir uma vez mais no Congo Brazzaville
utilizando MIGS. Isto poderá ser o prelúdio para uma nova utilização
dos gazes contra Savimbi. Foram os generais russos que também
estiveram no Afeganistão que dotaram Angola da arma química. Dos
Santos dispõe do gaz de mostarda, sarin (tornado célebre no
atentado do metro de Tóquio), fosgénio e um produto organo-cianogénio
que ataca o cérebro de maneira irreversível. As pessoas deixam de
ver, de sentir, perdem o paladar; as mães não reconhecem mais as
suas crianças. Com os colegas europeus, fui várias vezes nas áreas
controladas pela UNITA. Milhares de vítimas viviam aí como plantas.
Ninguém se preocupa. Entrevista do professor Hendrijckx/jornal
"la Meuse" de 23/10/98
- 7/ Simulação de ataques da UNITA. Para obter favores da
Comunidade Internacional Eduardo dos Santos criou uma unidade que
semeia terror nas populações, matando, destruindo aldeias inteiras
e colocando minas nas estradas e nos campos de cultivo. Feitas estas
operações os resultados são divulgados como sendo prática da UNITA.
- 8/ Soldados da Fortuna Confrontado com a falta de motivação de
angolanos para a guerra, o MPLA retomou o recrutamento de mercenários
conforme reza a seguinte passagem do Diário de Notícias, publicado
em Lisboa: "A situação de guerra que se vive actualmente em
Angola estará a levar mais cubanos para este país, na condição
de conselheiros. Segundo informações recolhidas em Luanda, estes
poderão rondar agora as duas centenas, espalhados e sobretudo pelos
Ministérios da Defesa, das Relações Exteriores e da Saúde. O
serviço de fronteiras tem contabilizado várias entradas de cidadãos
cubanos, que chegam sobretudo em aviões da companhia russa Aeroflot
com proveniência de Moscovo". Diário de Noticias do 19 de Janeiro
de 1999 - Ana Glória Lucas e Ivone Ferreira. Num artigo
diferente, outro jornal publicava, sob o título "Luanda quer
mercenários", o seguinte: "O Governo angolano encomendou
a empresas Sul-Africanas a contratação de mercenários que tenham
cumprido o serviço militar na África do Sul, noticiou por seu lado
o jornal sul-africano "The Sowetan". O diário referiu que
duas empresas, cujos nomes não divulgou e que terão escritórios
em Joanesburgo e Pretória, estão a recrutar "soldados da
fortuna" que já serviram nas antigas Forças de Defesa da África
do Sul (SADF)- para combater a UNITA em Angola. O cliente das duas
empresas, segundo o jornal, será o Governo angolano, que está a
enfrentar sérias dificuldades para conter o avanço dos homens de
Savimbi. Funcionários superiores Sul-Africanos disseram ao "Sowetan"
que vêem com preocupação as autoridades de Luanda a incentivarem
actividades mercenárias na região e, em particular, na África do
Sul. (Jornal notícias de 1 de Abril de 1999)
III. CRONOLOGIA DOS MASSACRES E EXECUCÕES EXTRAJUDICIAIS
Perpetrados pelo MPLA e José Eduardo dos Santos Desde 1975 à
2000 "A situação em Angola, continua a ser assunto de grave
preocupação em particular as alegações relativas a execuções
extra-judiciais, sumárias ou arbitrárias de civis desarmados e de
jornalistas. O Relator Especial presta o seu desejo de que seja prestada
maior atenção aos direitos humanos no processo de paz" (Relatório
do Relator Especial para as Execuções Extra-Judiciais, Sumárias ou
Arbitrárias, Julho de 1996) Amnistia Internacional (AI): AFR 12/06/96
(p) 1 - 1975 - ACORDOS DE ALVOR Massacres do Pica Pau em Luanda, em
Maio de 1975: Mais de trezentos militantes da UNITA, foram friamente
assassinados pelo poder popular do MPLA; Massacres de Kassamba (Moxico)
em Junho 1975: duzentos militantes da UNITA foram friamente massacrados
pelo MPLA; Massacres da ponte sobre a rio Kwanza no Dondo(Kwanza Norte) em
Agosto de 1975: setecentos militantes da UNITA foram massacrados com a
cumplicidade do destacamento das Forças Armadas Portuguesas; 2 -
1977 - ACONTECIMENTOS DO 27 DE MAIO DE 1977 Assassinato colectivo, a
partir de 27 de Maio de 1977, por Angola inteira de mais de sessenta mil
angolanos, acusados de fraccionistas e de apoiantes de Nito Alves e José
Van Dúnem; A propósito a Amnistia Internacional escrevia: "No
rescaldo de uma tentativa de golpe, a 27 de Maio de 1977, milhares de
pessoas foram detidas e interrogadas, frequentemente sob tortura. Muitas
foram executadas após julgamentos manifestamente injustos, ocorridos em
segredo num tribunal especialmente constituído para o efeito. Algumas
centenas foram executadas sem terem sequer passado por algo com a mínima
semelhança a um julgamento e enterradas em valas comuns nos arredores de
Luanda e noutras áreas". (AI: AFR 12/06/96 (P) ) 3 - 1978 - PROCESSO
CONHECIDO PELO NOME DE "BOMBISTAS" 3. 1 -Fuzilamento no
"campo da Revolução" no Lobito de 5 Angolanos aos 3 de
Dezembro de 1978: Artur Elavoko Albino; Armando Kapitia; Noé Kessongo;
Eliseu Martinho; Alberto Manuel Salomão. 3. 2 -Fuzilamento no campo da
Revolução em Luanda de 15 Angolanos aos 5 de Agosto de 1980: Armando
Pinto; Abias Kayeye; Mendes Augusto; António Kapakala; João E. Kavimbi;
Arão Kanjulo; Emidio Nunulo; Conçalves S.Vicente; Artur Ezequias
Quarentinha; Francisco F. Machado; Bento Salomão; Victor Chamatamba; José
K. Kingango; João M. Da Silva; Manuel Kapina. 4 - 1991 - PROCESSO DE
BICESSE: 4.1 -Assassinato do Coronel Pedro Makanga, então Secretário
Provincial da UNITA em Malange e de diversos militantes da UNITA. A
respeito, a Amnistia Internacional escreveu: "Após o assassinato do
Coronel Pedro Makanga, da UNITA, em Setembro de 1991,um relatório das Nações
Unidas referiu que a Comissão tinha decidido que o assassinato "não
poderia prejudicar o desenvolvimento do processo de paz". Nos meses
seguintes ocorreram, pelo menos, outros 20 crimes com motivação idênticas,
mas nenhum deles foi objecto de investigação. A ausência de acções
aumentou a tensão e estabeleceu a convicção, junto dos responsáveis
por violações de direitos humanos, de que é possível recorrer ao crime
como arma política e ficar impunes". (AI: AFR 12/06/96 (P) ) 4.2 -Massacres
de 1992: mais de quarenta mil militantes da UNITA e angolanos da etnia
ovimbundu em Luanda e largos milhares de outros pelo país adentro, foram
friamente assassinados pela milícia do MPLA; polícia de Intervenção e
Forças Armadas a mando de José Eduardo dos Santos. Continuam em Luanda e
sem sepultura, sob custódia de José Eduardo dos Santos, os corpos dos
dirigentes da UNITA: Vice-Presidente, Eng° Jeremias Kalandula Chitunda;
Secretário Geral, Adolosi Paulo Mango Alicerces; Chefe da Delegação da
UNITA à CCPM, Eng° Elias Salupeto Pena e Chefe dos Serviços
Administrativos da UNITA em Luanda, Eliseu Sapitango Chimbili.
Vejamos o que escreve a Amnistia Internacional a respeito: "A 31 de
Outubro de 1992, desencadeou-se em Luanda um intenso tiroteio. Forças
governamentais atacaram as residências e escritórios da UNITA. A PIR e a
polícia, apoiadas por civis a que tinham distribuído armas nas semanas
anteriores, procuraram elementos da UNITA, casa-a-casa. Centenas de
pessoas morreram em consequência do tiroteio e muitas outras foram
deliberadamente executadas. Outras tantas foram colocadas sob custódia da
polícia ou dos militares. Os prisioneiros foram levados em camionetas de
carga para o cemitério de Camama, nos arredores da cidade, onde foram
abatidos e enterrados em valas comuns. Existem referências de outra vala
comum no Morro da Luz, uma ravina da zona da Samba em Luanda para onde
supostos membros da UNITA terão sido empurrados. Existem, ainda, referências
de valas comuns noutras cidades". (AI: AFR 12/06/96 (P) Outro
relato sobre este massacre lia-se no jornal O Público, de Portugal:
"A perseguição dos elementos da UNITA por civis armados não foi, como
alega o Governo, descoordenada. Residentes dos bairros suburbanos da
capital afirmam que desde meados de Outubro que apoiantes do Governo,
antigos membros das forças de segurança e da milícia distribuíram
armas aos civis. Esquadras da polícia chegaram a ser utilizadas com esse
fim. No dia 31, casas de hipotéticos simpatizantes da UNITA foram
cercadas, buscas foram realizadas casa a casa, pessoas indiscriminadamente
detidas até por serem da etnia ovimbundo, a etnia de Savimbi, ou Bakongo,
esta suspeita de oposição ao MPLA, o partido no poder. Muitos detidos
foram logo mortos. Por vezes, famílias inteiras. Pessoas foram regadas
com gasolina e mortas pelo fogo. Entre os várias casos relatados, a A.I.
refere as mortes do pastor protestante Abraão, da comunidade de Kikolo, e
de outros membros da sua congregação. Outros pastores foram detidos na
Prisão da Estrada de Catete até à sua libertação, em Dezembro. Prisões
indiscriminadas, agressões, torturas, execuções extrajudiciais e
"desaparecimentos" continuaram nos dias seguintes e até ao início
de 1993". O documento refere agressões até sobre dirigentes e
membros de partidos legalizados. Entre os tipos de tortura referenciados a
A.I. descreve o fuzilamento simulado. Mas quando os pelotões fuzilavam
mesmo, a prática era realizada, por exemplo, em cemitérios, como em
Camama, perante valas previamente abertas. Na primeira semana de Novembro,
os fuzilamentos foram diários. A organização acredita que centenas de
pessoas morreram assim, mas cita fontes que apontam para mais de três mil
o número de mortos." (O público, 20/08/93). E a Amnistia
Internacional acrescentava: "Nas cidades de Benguela, Lubango e
Lobito tiveram lugar acontecimentos análogos. Em Novembro de 1992, foram
atacadas residências e escritórios da UNITA e os seus membros e
apoiantes foram presos ou executados. (AI: AFR 12/06/96 (P) ) 4. 3 -
1993 - Sexta-Feira sangrenta de Janeiro 1993: Trezentos angolanos da etnia
bakongo foram selectiva e friamente assassinados em Luanda, pela milícia
do MPLA; Polícia de Intervenção Rápida e Forças Armadas a mando de
José Eduardo dos Santos. É a Amnistia Internacional que mais uma vez nos
relata o seguinte: "Em Janeiro de 1993, ocorreram assassinatos e
outras violações de direitos humanos em Luanda e noutras áreas ocupadas
pelos Bakongos, grupo étnico espalhado pelo norte de Angola e pelo sul do
Zaïre. Estas mortes seguiram-se a referência ao apoio de mercenários do
Zaïre à UNITA, no ataque ao Soyo, e à presença em Luanda de um comando
Bakongo, cujo objectivo seria o de assassinar o Presidente José Eduardo
dos Santos. Fontes oficiais referem 12 mortes, mas fontes não-oficiais
referem mais de 60 e um número muito mais elevado de feridos. Em Janeiro
de 1994, o Ministério do Interior informou que os tribunais estavam a
tratar dos processos de 17 soldados e 7 civis suspeitos de envolvimento
nos acontecimentos e que outros 9 casos estavam pendentes de localização
de testemunhas. Contudo, aparentemente, os detidos terão sido libertados
sem julgamento". (AI: AFR 12/06/96 (P) ) E continua: " Em
Janeiro de 1993, teve lugar outra onda de assassinatos. Uma das vítimas
foi Constantino Chitwe, professor e trabalhador de uma igreja, que foi
arrastado da sua casa em Benguela e abatido a tiro. Tinha saído da prisão
ao abrigo da lei da amnistia de 1991. Após ter sido detido em 1981,
sob suspeita de actividades de apoio à UNITA, tinha sido condenado a 16
anos, num julgamento efectuado à revelia dos princípios elementares de
direito internacionalmente consagrados. Em 1983, cerca de 400 vítimas de
execuções extra-judiciais terão sido enterradas no Lobito. Outras
centenas de pessoas terão sido executadas nas aldeias vizinhas. Nenhuma
destas mortes foi objecto de inquérito oficial e os responsáveis estão
protegidos, ao abrigo da lei da amnistia de 8 de Maio de 1996, de serem
acusados". (AI: AFR 12/06/96 (P) ) 4.4 - 1994 - Bombardeamento
deliberado, a voo rasante na Escola Primária do Waku Kungo, pelos caças
bombardeiros do MPLA: pereceram mais de cento e cinquenta crianças;
4. 5 - Bombardeamentos aéreos sobre a cidade do Huambo, de Janeiro de 1993
a Novembro de 1994: Fizeram mais de três mil vitimas civis entre
velhos, crianças e mulheres; 5 - PROCESSO DE LUSAKA -Durante
o decurso da extensão da Administração do Estado ocorreram os seguintes
incidentes graves: - Mais de mil e duzentos responsáveis e dirigentes dos
órgãos de base da UNITA foram assassinados a partir de Abril de
1997. - Mais de dois milhões de angolanos deslocados internos como
resultado de massacres perpetrados durante o processo da Extensão da
Administração do Estado. Só em Kangandala e numa só vez, 50 militares
desmobilizados foram presos e levados para a prisão de Malange onde foram
executados por asfixia. Quando a Comissão Conjunta investigou este
massacre, o Governo enganou os observadores internacionais, apresentando
apenas dez sepulturas. (Vide o relatório do Secretario Geral da ONU/Relatório
S/1998/524, de 7 de junho de 1998, já atrás mencionado ) A
Amnistia Internacional tem mais sobre o assunto: "Membros da UNITA e
suspeitos de simpatizar com a UNITA continuam a ser arbitrariamente
detidos. Cerca de 60 pessoas detidas no Uíge a 29 de Setembro de 1995 e
acusadas de serem simpatizantes da UNITA foram mantidas em 15 contentores.
Foi-lhes dada comida e permitido algum exercício. Estiveram 6 semanas sem
acusação ou julgamento". (AI: AFR 12/06/96 (P) )
-O espírito de Reconciliação Nacional foi, portanto, substituído
pela limpeza política e criminosa como indica o seguinte balanço sobre o
número de mortos e de prisioneiros feitos desde Outubro de 1997
:
- Mortos: 1.200
- Presos e torturados 745
- Mulheres violadas 100
- Desaparecidos 200
- Em Julho de 1998 foram massacrados cento e cinco pacíficos comerciantes
em Bula, província da Lunda Norte, confirmados pela MONUA;
- Agosto de 1998: assassinato selectivo de 30 pessoas, por serem ovimbundus
e apoiantes da UNITA, em Luanda, no bairro de Kazenga e Kikolo. No
relatório da organização Human Rigth Watch, o governo reconheceu 8
vítimas. - Massacre de cerca de trezentas pessoas, na Província de
Malange área de Kota, entre Angolanos e Congoleses da República
Democrática do Congo;
- 18 de Outubro de 1998: O regime de José Eduardo dos Santos assassinou
por envenenamento o General Arlindo Chenda Pena Ben-Ben, Vice Chefe do
Estado Maior Geral das FAA, indicado pela UNITA.
IV - A PERSPECTIVA DA UNITA SOBRE A PAZ
Como se pode constatar através de todos os factos acima mencionados, o
passado foi particularmente doloroso e deixou marcas profundas na memória
colectiva de uma parte da população angolana que esta longe de poder ser
negligenciada. Com efeito, é essa população que, transformando o seu
trauma e frustrações em força, decidiu resistir sob a Direcção do Dr.
Jonas Malheiro Savimbi para que Angola seja um país mais africano e solidário
capaz de tratar todos os seus filhos por igual.
A UNITA é por uma paz que garanta a vida a todos os Angolanos e não pela
paz que signifique exclusão ou liquidação física de opositores.
A UNITA é pela paz que passe pelo diálogo directo e estruturado, em torno
de uma mediação séria, idónea e perfeitamente isenta que permita um
papel real e preponderante aos angolanos, todos eles, para a discussão
profunda das causas políticas, históricas, culturais, económicas e
sociais do longo conflito angolano com vista:
- 1. À Independência Nacional real contra o neo-colonialismo;
- 2. Decantar, definir e fixar as bases da Identidade Nacional;
- 3. À Unidade Nacional e Igualdade de todos os Angolanos perante a lei
que garanta o direito à vida e oportunidades iguais, sem exclusões
nem humilhações, rejeitando todas as heranças
coloniais;
- 4. À instauração de um verdadeiro Estado de direito e democrático com
uma real separação de poderes;
- 5. À garantia do respeito e das liberdades da imprensa
independente;
- 6. À definição dos fundamentos para o desenvolvimento económico e
social do País;
- 7. À formação de um governo de amplo consenso nacional e de transição
pois o mandato do actual parlamento expirou em outubro de 1996 e o
actual Chefe de Estado não é senão um candidato à segunda volta da
eleição presidencial desde 1992 em pé de igualdade com o Presidente
da UNITA;
- 8. À despartidarização da administração pública, das Forças Armadas
e da Policia;
- 9. À abordagem realista do caso de Cabinda;
- 10. À criação de uma comissão nacional para o controlo e fiscalização
do uso das finanças públicas, em particular as receitas
provenientes da exploração do petróleo e diamantes. Esta comissão
nacional trabalharia em estreita colaboração com uma equipa
internacional de auditoria;
- 11. À criação e defesa de um espirito aberto ao dialogo permanente com
os países vizinhos para se por cobro a política da canhoneira.
É no quadro do sentido Pan Africano que encontraremos a paz para
Angola.
- 12. À criação de uma comissão eleitoral independente. Uma vez as condições
políticas, psicológicas e materiais reunidas, realizadas as eleições
legislativas e presidenciais, o Parlamento eleito deve definir os critérios
de representatividade dos Partidos políticos.
A Direcção da UNITA reitera, uma vez mais, a sua
total disponibilidade e, sobretudo, vontade política para negociar com o
governo de José Eduardo dos Santos as causas profundas que dividem os
Angolanos com vista à encontrar-se uma solução justa.
Todavia, a UNITA não se vergará nem as pressões
militares do regime, muito menos as sanções das Nações
Unidas.
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