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RELEASE NR.01/UNITA/ MEMORANDUM ON NON-COMPLIANCE BY THE MPLA 1975-1998 |
Orlando Castro Jornalista Pela Paz em Angola Se não for possível deixar às gerações vindouras, nomeadamente às que têm no corpo e na alma a utopia eterna da lusitaneidade, algum património, ao menos lutemos para lhes deixar algo mais do que a expressão exacta da nossa cobardia. Porque não há comparação entre o que se perde por fracassar e o que se perde por não tentar, permito-me a ousadia (que espero compartilhada por todos os que responderam a esta chamada) de tentar o impossível já que - reconheçamos - o possível fazemos nós todos os dias. Como jornalista, como angolano, como ser humano, entendo que a situação angolana ultrapassa todos os limites, mau grado a indiferença criminosa de quem, em Angola ou no Mundo, nada faz para acabar com a morte viva que caracteriza um povo que morre mesmo antes de nascer. E morre todos os dias, a todas as horas, a todos os minutos. E morre enquanto nós, aqui em Portugal, cantamos e rimos (como no tempo anterior ao 25 de Abril). E morre enquanto outros, em Luanda, comem lagosta. E morre enquanto outros, no interior do território, dialogam pela voz dos canhões. É que, quer o MPLA e a UNITA queiram ou não, na guerra de Angola ninguém sairá vencedor. Todos perdem. Todos perdemos. Creio, aliás, que o próprio general João de Matos tem consciência de que que a guerra não é uma solução para o problema angolano, é antes um problema para a solução. No caso da UNITA, tenho a certeza de que o general Alcides Sakala (meu querido e velho amigo) tem a mesma consciência. Assim sendo, é pequeno o passo que é preciso dar para que os angolanos, irmãos de sangue, deixem de falar pelos canos das espingardas, deixem de transformar Angola numa gigantesca vala comum onde, se tudo continuar na mesma, acabaremos todos. Até agora, cada um ao seu estilo - mas ambos com o dedo no gatilho, Eduardo dos Santos e Jonas Savimbi teimam em confundir a obra-prima do mestre com a prima do mestre de obras. Teimam em esquecer que, afinal, num país onde não há pão... todos matam e todos morrem sem razão. E como se isso não fosse suficiente, os outros (sobretudo Portugal) teimam também em confundir a estrada da Beira com a beira da estrada, achando legítimo que uns matem e outros morram, achando que uns são os bons e os outros os maus, quando - reconheça-se - nesta guerra todos são maus. Mais do que julgar e incriminar importa, nesta altura, parar. Parar definitivamente. Não se trata de fazer um intervalo para, no meio de palavras simpáticas e conciliadoras, ganhar tempo para meter mais armas em Angola, ganhar tempo para formar novos generais. Angola tem generais a mais e angolanos a menos. Angola tem minas que chegam para encher durante um século os cemitérios. Angola tem feridas suficientes para ocupar os médicos (que não tem) durante décadas. Convém, por isso, que a guerra termine antes de morrer o último angolano. Espero que disso se convençam João de Matos e Alcides Sakala, dois dos angolanos, dois dos irmãos, que entre cadáveres conhecem melhor a iniquidade de uma luta que há muito deixou de ser de libertação para ser, cada vez mais, de destruição. MPLA e UNITA, Eduardo dos Santos e Jonas Savimbi, têm de se convencer que já não há lugar para a tese «de derrota em derrota, até à vitória final». O que em Angola se passa só pode ser definido como «de derrota em derrota até à derrota final». Alguém ganha quando mata um irmão? Alguém ganha quando um país tem filhos que nasceram no meio de tiros, cresceram no meio de tiros, tiveram filhos no meio de tiros e morreram no meio de tiros? Mais do que julgar e incriminar, Angola precisa de paz. Isto porque, como a História provará, a haver julgamento todos seriamos réus, todos seriamos incriminados. Todos, desde Eduardo dos Santos a Jonas Savimbi, desde João de Matos a Alcides Sakala. Portugal pode, Portugal deve, Portugal tem a obrigação de ajudar os angolanos a encontrar uma solução. Portugal pode, nesta matéria, encontar um imperativo nacional para voltar a sentar à mesma mesa os responsáveis angolanos. Dir-me-ão que, se calhar, é tarefa impossível. Mas é tornar possível o impossível que fez Portugal dar luz ao mundo. E o que falhou ontem não tem, necessariamente, de falhar hoje. E não tem porque os beligerantes aprenderam (embora tarde, muito tarde) que é chegada a altura de aproveitarem a que poderá ser a última oportunidade. Creio que a UNITA está à espera que lhe estendam a mão. Creio que o MPLA está à espera que alguém lhe diga para estender a mão. Não creio, antes tenho a certeza, de que Angola está à espera que as mãos se apertem. Portugal está à espera do quê para, mais uma vez, dar luz ao mundo? Muito obrigado, pela paz em Angola. ------------------------------------------------------------------- Orlando Castro - Jornalista (Coordenador da Secção de Economia)
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Última actualização/Last update 12-11-2000 |