Pode adquirir o livro "Angola onde os Guerreiros não Dormem" de Urbano Chassanha através de reembolso. Contactar o terminal telefónico (351)962649231, ou através do email uma@teleweb.pt URBANO CHASSANHA nonde
os guerreiros não dormem Dedicatória
1 — Exclusão —
Acordos de Alvor —
Consequências do Acordo de Alvor
1 — Resistência —
Acordos de Paz de Bicesse —
Consequências dos Acordos de
Bicesse —
Acordos de Lusaka
1 — Violações do
Governo
2 — Violações da UNITA —
O retorno à guerra —
Operação restauro —
O regresso à guerra de guerrilha —
O futuro Conclusão Anexo
I — Plano
Estratégico de Implosão
(Segredo de Estado) Anexo
II — Cronograma de acções Dedicatória Dedico este livro à memória do meu grande
e velho amigo Felizberto Salvador Ramos, um algarvio, como queria que lhe
chamassem, e que conhecia Angola e o pensar dos seus povos como poucos
angolanos. Encorajou-me sempre a prosseguir com os meus ideais, fossem quais
fossem as dificuldades. Dizia amiúde que o valor de um homem se media pela
consequência e persistência com que defendia os seus ideais perante as
contrariedades. Velho amigo, este livro é a prova que continuo firme nos meus
propósitos. As dificuldades são enormes mas sigo em frente. Até um dia
destes!... Dedico-o também à memória dos milhares de
angolanos que pereceram e continuam a perecer no conflito angolano e dos quais
ninguém conhece sequer a sua última morada.
Dedico-o ainda a Wong Wei Sam, meu amigo das horas difíceis e
meu mestre em arte de guerra e sobrevivência. Além do nome, o que sei dele é
tão pouco que nem me permite procurar a sua família e mostrar-lhe a sua
sepultura. Sei que era moçambicano de origem ch inesa, sei que
trabalhava na Companhia Mineira do Lobito, em Jamba Mineira, na Província da
Huila, e nada mais. Conheci mais do seu carácter do que da sua identidade.
Corajoso como nunca vi ninguém, viu-se envolvido num fogo cruzado de uma guerra
que não lhe pertencia apenas para sobreviver. Nem isso ele conseguiu!... Numa metáfora deveras curiosa, um colega meu comparava Angola a uma noite e filosofava assim: «Os militares não dormem, os políticos não acordam e por isso mesmo o povo não pode sonhar.» Não me considero dono da
verdade absoluta nem penso que alguém possa ter esse tipo de pretensão. Decidi
escrever este livro apenas com o objectivo de proporcionar à opinião pública
uma outra visão da problemática angolana porque vivi vinte longos anos do
outro lado da barricada, com a UNITA. A 5 de Dezembro de 1995, segui para Luanda
como Chefe Adjunto da Delegação da UNITA à Comissão Conjunta, órgão reitor
da implementação do Protocolo de Lusaka, tendo posteriormente, ao abrigo dos
mesmos Acordos, tomado posse como Deputado à Assembleia Nacional, a 7 de Maio
de 1997. Por experiência pessoal, fiquei
com a certeza de que os historiadores — e não coloco em causa a sua
idoneidade nem tão-
-pouco a sua honestidade — escrevem a história da forma que a
sentiram, dependendo sempre do ponto onde se encontravam, deste ou daquele lado
da trincheira. Acrescente-se a isso ainda o facto de haver simpatias pessoais
que, num determinado momento, podem influenciar
a maneira de pensar, tentando compreender os fundamentos de uma
das partes em detrimento da razão que a parte adversa possa ter. Trata-se
indiscutivelmente de um ponto de vista meramente pessoal. Quando eu era comandante de
unidades militares, costumava fazer depois dos combates aquilo que designava dinâmica operacional.
Na presença de todos os soldados, encorajava cada um dos participantes a
descrever o combate como forma de corrigirmos o que nos correra mal. A primeira
vez que o fiz fiquei bastante surpreendido porque, embora estivéssemos a falar
do mesmo combate, estava a ser colocado perante duzentos ou trezentos combates
completamente diferentes... As diferenças chegavam mesmo a ser impressionantes.
Salvo raras excepções, apenas a data e o nome do local onde o combate se
efectuara coincidiam. No restante tudo diferia. Ora se o relato difere
substancialmente num simples pormenor que é uma batalha numa guerra, imaginemos
quanto será abismal a diferença de pontos de vista quando tivermos de falar
sobre a história de um país. Poderemos eventualmente estar a
estudar uma história completamente adulterada porque se trata do ponto de vista
de uns poucos. A verdade ficará situada algures entre a história do vencedor e
do vencido, e, mesmo assim, no que me diz respeito, com reservas. A história é
sempre escrita pelos vencedores por mais legítimas que sejam as razões dos
vencidos. As razões destes mantêm-se em estado latente, podendo a qualquer
altura e numa determinada circunstância exacerbar-se. A história torna a
repetir-se, como é usualmente dito. Repete-se — se tal é possível —
porque não teve um tratamento adequado. O Conde de Marenches, antigo
chefe dos serviços secretos franceses, destrinçou de uma maneira curiosa a política
e seus contornos. Ele chamava política
aos assuntos relacionados com interesses geo-estratégicos da França. E
apelidava de «politiquice»
a política doméstica francesa. Mesmo que eventualmente não tivéssemos
toda a gama de informações para discorrer sobre a política
de Angola, no conceito do Conde de Marenches conseguiríamos facilmente ver que
o nosso País, devido à sua localização geo-estratégica no contexto do Atlântico
Sul, e devido aos seus enormes potenciais recursos naturais, é, e será sempre,
não «uma
trincheira firme darevolução em África»,
como se pretendia em plena guerra
fria, mas sim um país permanentemente cobiçado. Num passado recente, Angola
fazia parte do conflito da África austral. Agora faz parte do conflito da África
central. Desta forma os Angolanos ficarão fazendo permanentemente parte das
políticas de
determinadas potências, que, aproveitando-se das nossas «politiquices»,
sempre tão mal geridas, transformam este enorme e portentoso País num
verdadeiro caos. No caso interno de Angola, portanto na nossa «politiquice»,
é um exercício absolutamente inútil procurar culpados, quando estamos perante
uma catástrofe e sobretudo porque somos dotados de inteligência necessária
para saber que a nossa «politiquice» depende
da «política»
dos outros. O mais lógico terá de ser, forçosamente,
colocarmos as nossas inteligências à procura de uma solução para sairmos da
crise, ao invés de consumirmos à procura de culpado o que nos resta de
energias. É preciso ser-se humilde e
reconhecer rapidamente que os culpados são apenos os incapazes de compreender
aquilo que está à vista de todos. É uma ilusão pensarmos que, por a guerra
fria ter terminado, também terminaram os interesses. Sejamos suficientemente
sagazes para conseguirmos evitar que os interesses estrangeiros nos continuem a
dividir. Angola, como um todo, terá
imensas vantagens em negociar com quem lhe aprouver, fazendo respeitar o princípio
de reciprocidade de vantagens. Cuidemos pois rapidamente da nossa «politiquice»,
encontrando soluções para que a paz que tarda tanto a chegar passe a ser uma
constante e partamos confiantes para o desenvolvimento e progresso social. Quando estudamos história,
ressaltam imediatamente duas questões fundamentais : as causas e as consequências.
Falaremos das causas. |
Última actualização/Last update 14-05-2001 |